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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sim, o Sábado é só Para os judeus!

Certamente que você já ouviu esta afirmação repetidas vezes: “O Sábado (1) era (ou é) só para os Judeus”! Pois bem, durante muitos anos tentei contra-argumentar esta afirmação, sem nunca ter me apercebido de que ela é, de fato… verdadeira!

Não, não pense que mudei de atitude relativamente ao Sábado! Continuo a considerá-lo, como sempre o considerei, e agora mais do que nunca, como sendo o verdadeiro dia de repouso para os cristãos, um dia que foi instituído na Criação pelo próprio Criador e que faz parte integrante da Lei fundamental (a Constituição) do Universo – os Dez Mandamentos.

Mas mudei, isso sim, de atitude, relativamente à compreensão que tinha da verdadeira identidade bíblica do povo de Israel!
O povo de Israel na teologia bíblica

É fulcral, para compreendermos quem é verdadeiramente o povo de Israel, que conheçamos bem a gênese desse nome e desse povo. A primeira vez que o nome “Israel” aparece mencionado na Bíblia é no texto de Gênesis 32:28. Nestas palavras: “Então, disse: Já não te chamarás Jacó, e sim Israel (2), pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste”.

O contexto em que o nome “Israel” aparece então, pela primeira vez, na Bíblia, é quando Jacó lutou com “um homem” (v. 24), que o próprio Jacó veio a reconhecer tratar-se de Deus: “Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva” (v. 30). Esta luta de Jacó com Deus resultou na sua salvação! Jacó era agora, pela primeira vez na sua vida, um homem verdadeiramente convertido! Tinha passado pela experiência do novo nascimento! E Deus quis dar um “rosto” visível à mudança radical ocorrida na vida daquele homem enganador (3), mudando-lhe o seu nome (4) para Israel (5). Associado ao novo nome havia um novo caráter, uma “nova criatura” (6). Por conseguinte, este nome tem um profundo significado espiritual. Por outras palavras, revela que, o homem “Jacó” era agora um “Israel” espiritual (7).

Israel teve 12 filhos “que entraram com Jacó no Egito” (Êxodo 1:1-5). Um filho, chamado José, teve vários sonhos (Gênesis 37:5-10). Os filhos de Israel multiplicaram-se no Egito e foram forçados à escravidão até ao tempo de Moisés. Então Deus disse a Moisés, “Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é Meu filho, Meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir Meu filho, para que Me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que Eu matarei teu filho, teu primogênito” (Êxodo 4:22-23).

Aqui é-nos apresentado um importante desenvolvimento no pensamento bíblico. O nome “Israel” é agora expandido – não mais se refere unicamente a Jacó, mas também aos seus descendentes. A nação é agora chamada “Israel”. Assim sendo, o nome “Israel” foi primeiramente aplicado a um homem vitorioso, a seguir a um povo.

Era desejo de Deus que esta nova nação de Israel pudesse ser igualmente vitoriosa como foi Jacó, através do exercício de uma fé nEle. Deus apelidou esta nova nação de Israel “Meu filho, Meu primogênito”. Israel foi chamado “uma videira” que Deus trouxe “do Egito” (Salmo 80:8). Deus disse, “Mas tu, ó Israel, servo Meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, Meu amigo” (Isaías 41:8). Deus também se referiu ao “Meu servo Jacó” e a “Israel, Meu escolhido” (Isaías 45:4).

Por volta do ano 800 a.C., o Senhor disse, através do Seu profeta Oséias: “Quando Israel era menino, Eu o amei; e do Egito chamei o Meu filho” (Oséias 11:1). Por este tempo a nação de Israel, que Deus amou, tinha falhado em viver à altura do significado espiritual do seu próprio nome. Não tinha vivido vitoriosamente como um “príncipe de Deus”. Por isso Deus tristemente declarou: “Quanto mais Eu os chamava, tanto mais se iam da Minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura” (Oséias 11:2) (8).

Aproximadamente 800 anos após o tempo do profeta Oséias, “a plenitude do tempo” (Gálatas 4:4) chegou! Então, Jesus nasceu “em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes” (Mateus 2:1). Porque o rei Herodes se sentiu ameaçado por este recém-nascido poder vir a ser um rival ao seu trono, “mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo” (Mateus 2:16). Porém Deus tinha avisado antecipadamente a José acerca desse morticínio: “Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e a sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que Eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (v. 13). Por isso “dispondo-se ele, tomou de noite o menino e a sua mãe e partiu para o Egito” (v. 14).

O versículo 15 é como uma “bomba atômica” nas suas implicações proféticas. Sob a inspiração do Espírito Santo, Mateus escreveu que José, Maria e Jesus ficaram no Egito “até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: do Egito chamei o Meu Filho.”

 Apercebeu-se verdadeiramente do que acabou de ler? Mateus está a citar Oséias 11:1, cujo texto, no seu contexto histórico, referia-se à nação de Israel, chamada a sair do Egito no tempo de Moisés. Contudo, aqui, o autor evangélico pega nesse texto de Oséias e declara-o “cumprido” em Jesus Cristo!

Lembre-se disto: a primeira vez que o nome “Israel” é usado na Bíblia, é um nome espiritual dado a um homem cujo nome era Jacó (Gênesis 32:28). Este nome está intrinsecamente ligado à vitória espiritual de Jacó. Significa “príncipe de Deus”. Mesmo assim, no início do Novo Testamento este mesmo nome começa por ser aplicado a um Homem, o Vitorioso, Jesus Cristo, o Príncipe de Deus.

Existem paralelismos incríveis entre a história de Israel e a história de Jesus Cristo.

 a) Na história hebraica, um jovem de nome José, que teve sonhos, foi para o Egito; no Novo Testamento encontramos outro José que teve sonhos e que foi para o Egito.

b) Quando Deus chamou Israel a sair do Egito, Ele chamou a essa nação “Meu filho” (Êxodo 4:22); quando Jesus saiu do Egito, Deus disse “do Egito chamei o Meu Filho” (Mateus 2:15).

 c) Quando a nação de Israel saiu do Egito, o povo passou através do Mar Vermelho. Eles foram “todos batizados… no mar” (1 Coríntios 10:2); no terceiro capítulo de Mateus, lemos que Jesus foi batizado no rio Jordão para “cumprir toda a justiça” (v. 15). Então o Pai chamou a Jesus “o Meu Filho amado” (v. 17).

d) Após os israelitas terem passado pelo mar Vermelho, eles passaram 40 anos no deserto; imediatamente após ter sido batizado no rio Jordão, “foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto” por “quarenta dias” (Mateus 4:1, 2). No fim dos 40 dias, Jesus resistiu às tentações do diabo citando três passagens das Escrituras, todas do livro de Deuteronómio, o mesmo livro que Deus deu a Israel no final dos seus 40 anos no deserto!

 Qual é o significado de tudo isto? O significado é este: no livro de Mateus, Jesus está a repetir a história de Israel, ponto por ponto, e a vencer onde eles falharam. Ele está a tornar-se o novo Israel, o Príncipe de Deus, o Homem vitorioso que vence todo o pecado (9).

Assim sendo descobrimos que, no Novo Testamento, o que originalmente se aplicava à nação de Israel é agora aplicado a Jesus Cristo. Ele é o “descendente” de Abraão (Gálatas 3:16). Por conseguinte, Jesus Cristo é Israel!

Mas há mais. Nos livros de Gênesis e Êxodo, o nome “Israel” não apenas se refere a um homem vitorioso, a Jacó, mas também aos seus descendentes, que se tornaram Israel. O mesmo princípio é-nos revelado no Novo Testamento. Logo após Paulo ter dito de Jesus que Ele é o “descendente” (10) de Abraão, ele escreveu aos seus conversos gentios: “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29). Por conseguinte, no Novo Testamento, o nome “Israel” não apenas se aplica ao Homem vitorioso, o verdadeiro Descendente, Jesus Cristo, mas também a todos aqueles que estão em Cristo. Os crentes em Jesus tornam-se parte do “descendente”. Por outras palavras, os verdadeiros cristãos são agora o Israel espiritual de Deus!

Contudo, se bem que seja verdade que os verdadeiros crentes em Deus formam agora o verdadeiro Israel, o mesmo era verdade nos tempos da nação de Israel. É por essa razão que, quando Jesus encontrou Natanael, lhe disse “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!” (João 1:47). Se para Jesus há verdadeiros israelitas (judeus), então é porque também haverá certamente falsos israelitas! Isso ficou claramente demonstrado num diálogo que Jesus teve com alguns judeus.

Apesar do evangelista João nos dizer que “muitos creram nEle” (João 8:30), alguns desses que “creram” nEle não gostaram nada de ouvir Jesus dizer-lhes “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (v. 32). “Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?” (v. 33). Ao que Jesus lhes replicou: “Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-Me, porque a Minha palavra não está em vós. Eu falo das coisas que vi junto de Meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai” (v. 37-38).

Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-Me, a Mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus. Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, Me havíeis de amar; porque Eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de Mim mesmo, mas Ele Me enviou. Qual a razão por que não compreendeis a Minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a Minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque Eu digo a verdade, não Me credes. Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não Me dais ouvidos, porque não sois de Deus” (v. 39-45, 47).

 Pergunto: estes judeus, da “descendência de Abraão”, com quem Jesus dialogou, eram eles verdadeiros israelitas como Natanael o era? Claro que não! Segundo o próprio Jesus eles não eram filhos de Deus, mas eram, sim, filhos do diabo! Ou seja, não eram “príncipes com/de Deus”, isto é, israelitas (no verdadeiro sentido da palavra).

 O apóstolo Paulo não podia ser mais claro e convincente quando escreveu estas palavras: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Romanos 2:28-29; 9:6-8).

 Concluindo: ser-se “israelita”, na plena acepção bíblica do termo, tem, por conseguinte, e como já vimos, um significado espiritual – ser “príncipe de Deus” – e não meramente um significado étnico e/ou racial. Quando Paulo se referiu aos descendentes étnicos de Abraão, disse que são israelitas” “segundo a carne (Romanos 9: 4, 3). Quando o mesmo Paulo se referiu aos descendentes espirituais de Abraão, falou no Israel de Deus (Gálatas 6:16). Todas as promessas de Deus se cumprem no “Israel de Deus”, mas não no Israel “segundo a carne”.

 O Sábado - verdadeiro sinal ecumênico que reúne o Israel de Deus

 No passado, Deus falou assim, através de Moisés: “Disse mais o Senhor a Moisés: Tu, pois, falarás aos filhos de Israel e lhes dirás: Certamente, guardareis os Meus Sábados; pois é sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma obra será eliminado do meio do seu povo. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o Sábado do repouso solene, santo ao Senhor; qualquer que no dia do Sábado fizer alguma obra morrerá. Pelo que os filhos de Israel guardarão o Sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre Mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento” (Êxodo 31:12-17).

A que “filhos de Israel” dirigiu o Senhor estas palavras? Aos que mantêm uma relação espiritual com Ele, ou aos que são “incapazes de ouvir a [Sua] Palavra” (João 8:43)?

 Certa vez Jesus afirmou: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me convém conduzi-las; elas ouvirão a Minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (João 10:16). Essas “outras ovelhas” que ainda pertencem a outros apriscos são israelitas espirituais que ainda estão dispersos e, por conseguinte, ainda não estão congregados no “Israel de Deus” (Gálatas 6:16).

 Rute, apesar de ser de nacionalidade moabita e de praticar, seguramente, a religião dos seus pais e conterrâneos, era uma verdadeira israelita, porque quando a voz de Deus se fez ouvir na sua consciência, ela disse à sua sogra, “Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rute 1:16). Esta mulher converteu-se ao Deus de Israel e passou a ser uma israelita integrada no seio do povo de Deus.

 Quando, no final dos tempos, o apelo “Retirai-vos dela [Babilônia], povo Meu” (Apocalipse 18:4) se fizer mais forte do que nunca, os verdadeiros israelitas que ainda estão na Babilônia espiritual ouvirão a voz do seu Salvador e Senhor e juntar-se-ão aos outros israelitas genuínos, ao passo que os falsos israelitas que estão no seio do povo de Deus sairão para Babilônia (11). Haverá uma “migração” nos dois sentidos!

E que sinal visível da lealdade a Cristo será então visto e que será a característica comum a todos os israelitas e o elemento que os aglutinou a todos? Pois bem, nada mais, nada menos do que o respeito pelo Sábado do Senhor, pois este foi, é e será “entre [Deus] e os filhos de Israel”, não só um “sinal para sempre” (Êxodo 31:17), mas igualmente um sinal que os identifica como sendo povo de Deus: “Também lhes dei os Meus Sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica.” “Santificai os Meus Sábados, pois servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Ezequiel 20:12, 20).

Sim, o Sábado é só para os Judeus – para os israelitas espirituais, aqueles que ouvem a voz do Bom Pastor, Jesus Cristo, e que, por isso mesmo, obedecem a todos os Seus mandamentos, incluindo aquele que o próprio Senhor identificou como sendo um “sinal” entre Ele e o Seu povo.

 (1) O Sábado, visto como um dia sagrado de repouso e comunhão com o Criador e Redentor.

(2) Todos os negritos que aparecem nas passagens bíblicas deste artigo, foram acrescentados.

(3) O nome “Jacó” significa “Suplantador” ou “Enganador” (ver Gênesis 27:36). Literalmente significa “aquele que toma o calcanhar” (ver Gênesis 25:26)

(4) O nome de uma pessoa refletia, normalmente, um ou o traço especial de caráter dessa pessoa.

(5) O nome “Israel” significa literalmente “príncipe com/de Deus”.

(6) Expressão utilizada pelo apóstolo Paulo em 2 Coríntios 5:17 e em Gálatas 6:15.

(7) Steve Wohlberg, Exploding the Israel Deception, Amazing Discoveries: Forth Worth, Texas, 2000, pág. 16.

(8) Idem, págs. 17-18.

(9) Idem, págs. 19-21.

(10) “Descendente”, ou “descendência” (“posteridade”) ou “semente”.

(11) Ver 1 João 2:19.

FILIPE REIS

Nascido e educado na Igreja Adventista do Sétimo Dia e batizado em Março de 1989, aos 13 anos. Vive em Vila Nova de Gaia, Portugal. Serviu vários anos como Diretor da Escola Sabatina e Ancião na Igreja de Pedroso, Portugal, entre outras funções. Atualmente, é Colportor Evangelista da União Portuguesa. Em breve iniciará a formação em Teologia, para servir como Pastor. Editor do Blog O Tempo Final. Casado com Sofia, têm um bebé, Caleb Filipe, nascido em Junho de 2009.

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